segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Diversidade cultural, variadas expressões populacionais e etnias, e muita indignação na 2ª Conferência Estadual da Juventude

Prevista como um momento de discussão e apresentação de propostas para melhores políticas públicas direcionadas à juventude brasileira, a II Conferência Estadual da Juventude, realizada em Aracruz-ES, nos dias 27, 28 e 29 de outubro, se transformou num Evento de revolta, protestos e indignação.

A Conferência da Juventude, acontecida no SESC de Praia Formosa, município de Aracruz – ES, no último final de semana de outubro, reuniu mais de quinhentos jovens provenientes de todas as regiões do Estado, representantes das mais variadas etnias, culturas, manifestações populares e grupos de vivência da sociedade brasileira. Comunidades indígenas, etnologias, grupos temáticos, adversidades, tendências culturais foram representadas na Conferência onde as discussões caminharam quase todo o tempo para a insatisfação, não pela atual situação em que vive essa juventude sedenta de políticas dos Governos pela melhoria das mais diversas situações inerentes aos jovens, mas pelo que seria uma desorganização notória do Evento, e principalmente a ausência inaceitável, não justificada, do representante maior do Governo do Estado, tão esperado neste importante momento de discussões e entendimentos dessas situações.
Houve enorme polêmica na Plenária em relação ao processo de Eleição de Delegados para a Conferência Nacional que será em Brasília-DF de 09 a 12 de dezembro próximo. Num dos momentos mais tensos alguns chegaram a rasgarem seus crachás como forma de protesto. Denúncias abertas entre centenas de jovens no Auditório do SESC onde as palestras, conversações e votações ocorriam acusavam a intenção de favorecimento da região metropolitana da Grande Vitória, na qual estão os municípios de Cariacica, Vila Velha, Viana, Serra e a capital do Estado nas vagas para Delegados, na Conferência Nacional, previstas no Artigo 14 do Regulamento, “desmerecendo” assim as demais regiões do Espírito Santo somando 73 outros municípios. O clima de revolta resultou em muitas críticas à Comissão Organizadora Estadual (COE) já massacrada perante a Plenária pelo atraso excessivo dos trabalhos, já iniciados na recepção e acomodação dos participantes.
Algumas autoridades estiveram presentes na Mesa de Abertura e fizeram colocações que até receberam apoio dos presentes; a exemplo, o Deputado estadual “Da Vitória” que propôs a criação de uma Comissão Especial junto à Assembléia Legislativa para discutir as questões referentes à Juventude do nosso Estado, e que essa em breve se torne uma comissão permanente. O também deputado Professor Paulo se manifestou em favor de uma maior participação dos jovens nas decisões do Governo. E a Senadora Ana Rita enalteceu a diversidade de jovens presentes discutindo políticas públicas nesta Conferência, lembrando os muitos desafios das categorias ao longo dos anos. O senhor Darcy, representando uma organização da juventude a nível nacional informou que se aguarda a aprovação no Senado do Estatuto da Juventude. Enquanto que o Deputado Federal Paulo Foleto falou de avanços e como isso influenciou a juventude.

A representatividade da juventude

Thaynara Rodrigues de Freitas, 16 anos, do município de São Gabriel da Palha, deficiente visual, aluna da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “São Gabriel da Palha”, duas vezes por semana sai de madrugada para viajar ao município de Colatina e frequentar um Centro de Reabilitação. Segundo a senhora Maria do Socorro Santana Reinoso, abilitadora de pessoas com deficiência visual, foi feito um pedido para que ela tivesse um professor especializado em seu município e a Escola onde a adolescente estuda alegou que não tinha profissional especializado na área de deficiência visual, e o Estado não facilitou. O que levou Thaynara a buscar atendimento em Colatina, saindo de madrugada em uma das vagas dos carros da Secretaria de Saúde do seu município, quando há essa possibilidade, pois Thaynara vende bjouterias que ela mesma produz para ajudar no custeio de transporte quando necessário e da sua alimentação. A própria adolescente teve a iniciativa de procurar a prefeitura por esse apoio. No entanto, a Campeã numa Competição de Xadrez adaptado para cegos, além de um terceiro lugar na Copa Brasil 2010, nesta modalidade, realizada no Rio de Janeiro e São Paulo, competindo com adultos experientes, é um grande exemplo de força da vontade de uma juventude que quer discutir e apresentar propostas aos Governos, lutando pelos seus direitos. Sua orientadora na mobilidade para caminhar sozinha, dona Maria do Socorro, informou o quanto a menina é esforçada e dedicada no que quer. “As bijoterias ela já faz com a grande habilidade desenvolvida para usar a língua... Agora ela vai também aprender a cozinhar... e já tem um namorado que também é cego rsrs” – falou a orientadora acompanhante, provocando risos em Thaynara que caminhava seguramente a nossa frente e dizia: “Vou casar com ele mais vai depender da sogra rsrs”.

Revolta pela ausência do Governador

Mestrando em Política Social na Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Camila Valadão, Assistente Social, uma das palestrantes foi taxativa ao dizer: “É lamentável saber que as propostas apresentadas na I Conferência ficaram engavetadas em grandes empresas. Possivelmente foram parar em alguma mesa da Empresa Queirós Galvão” – Empresa que seria da família do Ex-Governador Paulo Hartung, também citado pela palestrante. Ao abordar uma triste realidade vivida no Espírito Santo, que se destaca pelo alto índice de mortalidade de jovens, Camila foi enfática ao criticar a ausência do Governador Casa Grande, o qual muitos garantiram que teria sido orientado pela Comissão Organizadora a não comparecer, a Assistente Social desabafou: “O Governador Casa Grande deveria sentir vergonha dessa situação que nosso Estado vive, e deveria estar aqui pra ouvir essa juventude”. Segundo Camila, das 20 cidades do Brasil com alto percentual de jovens mortos por assassinato, 4 estão no Espírito Santo, e destas o município da Serra é o líder.

Os índios também querem um país melhor

Os índios das Comunidades Pau Brasil e Caieiras Velha, descendentes dos Tupiniquins, estiveram representados pelos jovens Altieres, Josiane e Wander que foram lutar pelos diretos da juventude indígena de um meio ambiente e uma vida digna para todos. O jovem Altieres, que simpaticamente posou para uma foto, num bate papo também fez questão de se manifestar dizendo: “A Conferência está interessante, pena que não foi bem o que a gente esperava. Eu achava que os três da nossa delegação poderiam tentar ser eleitos para Conferência em Brasília, mas a Comissão fez a coisa de um jeito que só vai facilitar para as cidades da Grande Vitória e então só um de nós índios poderá ser eleito... Dentro dessas vagas pra ir pra Brasília já deveria ter vaga garantida para um índio e as outras a gente tentaria na votação... Nós somos um povo que sofre a muito tempo, não estamos sofrendo agora. Discriminação, morte, acabando com as moradias, com as tribos... Quando se fala em meio ambiente por exemplo, devia se começar falando dos índios” – desabafou Altieres, jovem, índio, querendo também lutar por mais políticas públicas em favor da juventude deste país.

Não há limites na luta pacífica por direitos

A deficiência física que limita o caminhar da jovem Dimítria Barbosa Mandeti Eto, de Aracruz, em nada a impediria de participar da Conferência, pois ela sabia que essa seria uma oportunidade ímpar de formulação de propostas que visam atender os mais variados anseios da nossa juventude. Dimítria esteve também participando da Conferência buscando ainda ser mais uma Delegada na Conferência Nacional onde pretende lutar pelos direitos e respeito para com as pessoas, principalmente os jovens, que pela limitação física encontram maiores dificuldades para trabalhar, estudar e terem uma vida mais digna. Com deficiência também na fala, num rápido bate papo fez-se entender muito bem ao dizer: “Quero sim lutar pelos deficientes, só nós é que sabemos o que um deficiente precisa”.

A decepção de um morador do município

Senhor Jucelino, que acompanhava a jovem Dimítria, em meio a muitas discussões na Plenária quanto à participação dos conferencistas, pediu pra fazer uso do microfone e desabafou: “Eu sou morador aqui de Aracruz, nós sediamos a Iª Conferência Estadual, que foi maravilhosa; agora que estamos também sediando a 2ª Conferência quero dizer que estou decepcionado ao ver tanto descaso de muitos jovens que vieram aqui pra fazer turismo e não estão participando discussões”.

Quem de fato estava na Conferência?

Pode-se dividir a Conferência Estadual da Juventude 2011 em três categorias de conferencistas: Os que foram para discutir os encaminhamentos das Conferências Municipais falando das necessidades e anseios da juventude espalhada por todo o Estado do Espírito Santo. Os que imbuídos de pretensões políticas abandonavam a Plenária e articulavam durante todo o tempo fazendo campanha para serem eleitos ou elegerem os Delegados que atenderiam os seus interesses pessoais ou políticos, na Conferência Nacional. E os desinteressados nas questões em geral, preocupados na maioria das vezes com a boa alimentação servida no Restaurante do SESC, bancada pelo Governo do Estado, e as horas e horas de lazer no Parque Aquático lá existente, além das inevitáveis paqueras e a diversão nas atrações culturais.

Momentos de lazer pra relaxar as tensões

Show de rock pop com Banda tocando ao vivo, momentos de expressão da cultura indígena com índios da região, e uma apresentação fenomenal da Bateria da MUG – Mocidade Unida da Glória, com duas meninas passistas encantando a todos com um samba no pé de fazer qualquer sambista adulta “cair o queixo”, dentre outras atrações, marcaram os momentos de lazer e descontração dos conferencistas, distribuídos entre as mais diversas identidades culturais, representados por estudantes, trabalhadores, ativistas culturais, jornalistas, artistas, Comunidade GLBT, ONGs, povos e etnias diversos, etc... bem mesmo a cara da população do Espírito Santo.
Mimoso do Sul participou da Conferência Estadual com 7 Delegados eleitos na Conferência Municipal, realizada pela Prefeitura através da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer. Em Aracruz estiveram 6 representantes da Sociedade Civil e 1 representante do Poder Público do nosso município.

Escrito por:ANTONIO CARLOS DE SOUZA – Carlinhos Gu
FONTE:http://www.mimosoonline.com.br/?secao=noticias_exibe&id=959&tema=5


Postado por: #MSUL Priscila Pavão Perim

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ABC das Identidades


Creio que alguns esclarecimentos iniciais se fazem necessários, tal é a quantidade de informações estapafúrdias e equivocadas encontradas por aí, em nossos dois mundos, o real e o virtual. A confusão que fazem com rótulos e categorias que impuseram aos gays (aqui num sentido mais genérico mesmo, evitando aquela sopa de letrinhas e a miríade de identidades homo) na tentativa de classificá-los e enquadrá-los em algo “legível” e compreensível aos olhos do mundo dito “normal”. E o pior é que estes rótulos muitas vezes são assumidos e incorporados pelos próprios homossexuais (aqui também num latu-sensu), sem nem mesmo se darem conta, às vezes, de como estes rótulos foram construídos e significados durante a história
A primeira e principal confusão conceitual que acontece com todo mundo no Brasil, mesmo entre a comunidade gay, é aquela que relaciona travestilidade e arte transformismta. Ou, ainda, colocarem transformistas e drags num mesmo saco, como se fossem a mesma coisa, sendo drag considerado apenas algo mais moderno, uma versão atualizada e repaginada do transformista. Já li, inclusive, artigos de cientistas, psiquiatras, psicólogos e até antropólogos (sim, antropólogos, futuros colegas meus!), enfim, estudiosos do assunto que cometem tal engano. Talvez se tivessem “mergulhados” um pouco mais em seus trabalhos de campo (como é chamado o “fazer pesquisa antropológica”) e prestado mais atenção aos “nativos” (outro clichê antropológico, isto é, a população pesquisada) tais estultices teriam sido evitadas. Tudo bem que as categorias de transformistas e travestis tenham uma gênese comum, tendo, inclusive, sido considerados sinônimos por determinado tempo. No entanto, com o passar dos tempos, algumas especificidades foram acontecendo fazendo com que as duas categorias passassem a diferenciarem-se entre si, criando identidades bastante distintas atualmente.
Fundamental, antes de tudo, é esclarecer certa diferença básica e que vem a embasar todas as outras definições. Trata-se da diferença entre Identidade Biológica e Identidade Psicossocial, ou ainda, entre Identidade Sexual e Identidade de Gênero. Sim! Elas são diferentes! E nunca foram pensadas antes da década de 1960. Graças ao movimento feminista as coisas começaram a mudar.
Bom... uma definição bem básica de identidade: é o conjunto de características e signos através dos quais relacionamos o "eu" com o "nós" e o "eles". Aliás, o "eu identitário" só surge depois de um reconhecimento desses "nós" e desse "eles". Como durante nossa vida nos defrontamos com uma diversidade de "nós" e "eles" podemos construir várias identidades que se justapõem e são acessadas conforme circunstâncias diversas. Portanto, identidades nunca são essenciais ou estáticas, sendo sempre relacionais e cambiantes.  Posso ser homem, gaúcho, cristão, brasileiro, gay, torcedor de um determinado time de futebol, rockeiro, etc, tudo ao mesmo tempo, assim como, ser somente uma delas quando determinada situação assim o exigir. Por exemplo, quando vejo cenas de violência e homofobia no futebol, meu lado gay se manifesta acima da identificação com um time de futebol. Por razões próprias da dinâmica de uma determinada cultura, algumas identidades se tornam mais fundamentais e embasadoras na construção de um "eu", entre elas, a identidade sexual, de nosso local de nascimento ou ancestralidade (étnica/racial) e religiosa. No que se refere à sexualidade, orientação sexual e transgeneração é necessário compreender a dinâmica e relação de duas identidades: a biológica (sexual) e a de gênero.
Identidade Biológica (ou Sexual) é aquela referente ao nosso sexo biológico, genético e com o qual fomos dotados fisicamente, isto é, nossa genitália e que nos define como macho e fêmea, homem e mulher. Já, a Identidade Psicossocial (ou de Gênero) pertence à dimensão do psicológico e do social. É a identidade aparente, comportamental, simbólica, nosso gênero, que nos define como seres masculinos e femininos. Uma comparação rasteira e um tanto reducionista mas que pode ser dada para elucidar a questão: a genética não nos fala em genótipo e fenótipo? Nossas características físicas que estão em nosso cromossomos mas que “aparecem” diferentes no nosso corpo, como cor do cabelo, por exemplo. Lembram das aulas de Biologia do segundo grau? Pois é! Mais ou menos por aí.
Continuando... a divisão das identidades em macho e fêmea, homem e mulher e masculino e feminino remonta à divisão social do trabalho, quando as tarefas para o sustento coletivo dos primeiros grupos humanos foram dividas entre homens e mulheres. A divisão não foi biológica. Foi social. Destarte a única diferença entre homens e mulheres, a de que estas são as únicas capazes de gerar a vida, o resto são diferenças culturais. E assim, pelo menos em nossa civilização ocidental, foram atribuídas certas qualidades a um ou outro sexo e com o passar dos milênios essas qualidades atribuídas foram incorporadas, tomadas como inatas, inerentes ao sexo. A civilização helênico-judaica, sendo cultura mediterrânica e, portanto, patriarcal, com a estória de Adão e Eva reforçou e muito este mito. Só que a diferença entre homem e mulher era considerada de grau, onde o homem era tido como superior à mulher, como se esta fosse uma versão menor e inferior daquele. Entre os séculos XVII e XVIII, com a Revolução Científica e o Iluminismo, essa diferença passou a ser considerada de natureza. Porém, a idéia de que a mulher era inferior ao homem persistiu nas entrelinhas (até hoje isso acontece). O mesmo aconteceu com a questão das identidades. O masculino só poderia pertencer ao homem e o feminino apenas à mulher, ou seja, as identidades genética e de gênero não se dissociavam. Um homem com qualidades femininas? Imagina! Só pode ser uma “anomalia”. Assim era construído o conhecimento, ainda fortemente influenciado por uma moral religiosa. No limiar da Ciência dita moderna, a partir do século XVIII, principalmente no nascer da medicina, com estudos sendo feitos sobre estas “anomalias”, percebeu-se haver, em alguns casos, na espécie humana, uma dissociação entre essas identidades! Assim a Ciência passou a “construir” seres humanos classificados em categorias. E classificação “pode” gerar ordenação! Devo apenas lembrar que isto se passa com nossa civilização: a ocidental. Outras culturas encontraram formas diferenciadas de lidar com a diversidade.
Outra questão pouco compreendida é que desejo nada tem a ver com identidade. Com nenhuma das duas! Os gregos já sabiam disso! Eros jogava suas flechas em todo mundo, o que queria era ver o amor! Imaginem! Zeus, o todo-poderoso “pegador” e mulherengo queria alguém que lhe servisse o néctar no Olimpo. Quem ele escolheu? O efebo Ganimedes, o mais belo dos jovens mortais. Quem diria! Mas daí veio São Paulo, o coletor de impostos arrependido e convertido, e mudou tudo isso. Do amor, nasceu o pecado! Do pecado, a doença e da doença veio o crime! Não se esqueçam, meus caros, em pleno século XXI, homossexuais e travestis ainda são considerados criminosos puníveis com a morte pelas leis de deus e dos homens em alguns lugares!
Por tudo isso e mais um pouco, é que ainda é muito difícil, para a sociedade como um todo, compreender e aceitar alguém de um determinado sexo se vestir e se comportar como se do outro sexo fosse. Isso ainda é tido como anomalia. Não se percebem as diferenças entre as identidades genética e de gênero. E essa idéia faz com que não possamos compreender a questão em toda sua complexidade. E tais diferenças dão-se de várias formas e nuanças, contribuindo, assim, para as diferenças existentes entre transformistas, travestis e transexuais, por exemplo.
Vou explicar melhor, agora, caso a caso, por meio de estudos antropológicos (apesar de limitado, ainda serve para o conhecimento humano, acredito) e também me servindo de definições êmicas, termo usado em antropologia, quando o próprio nativo se qualifica e se define. Ou seja, as definições que trarei são dos próprios homossexuais, transformistas, travestis, drags, etc. temperados com o conhecimento antropológico. Vale lembrar que os termos aqui tratados são referidos em seu uso no Brasil, podendo em outros lugares do mundo assumirem outras conotações. É importante frisar também que estas categorias são de análise , como tipos  ideais, modelos. Portanto, na vivência real podem ser cambiantes, ou seja, um sujeito que se enquadre numa categoria pode passar a assumir a identidade de outra, assim como  considero  a autoidentificação, ou seja, não sou eu que determino a identidade e sim o próprio sujeito que se coloca nela. Vamos, então, a um pequeno dicionário:

Homossexuais: indivíduos que praticam sua afetividade e sua sexualidade com outros indivíduos do mesmo sexo. O objeto do desejo é orientado a alguém do mesmo sexo. “Pode” haver uma identidade homossexual, uma identificação psicossocial com outros sujeitos praticantes da homossexualidade, porém, não é uma regra. Não há um identidade homossexual única. Existem sim, várias microidentidades homossexuais, variadas conforme outras condicionantes. Assim surgem os gays, as lésbicas, os sapatões, as melissinhas, as bichas, os bofes, as barbies, os ursos, os entendidos, etc. A prática sexual homo não está diretamente vinculada a uma identidade homossexual, muito menos a uma homossociabilidade. E identidade homossexual nada tem a ver com uma identidade feminina, no caso dos homens, por exemplo. Isto é um caso controverso. Alguns estudiosos e militantes acreditam que isso se deve ao caráter heteronormativo de nossa sociedade, que exerce uma coerção social tendenciosa, preconceituosa e machista e que não tolera o gay way of life. Outros, porém, acreditam que o assumir-se, o coming out, o famoso sair do armário e a forma como isso se dá é uma questão de escolha individual. Será?

Transgêneros: termo surgido recentemente e que serve para designar toda uma categoria de sujeitos que praticam a transgeneração, isto é, dissociam suas identidades genética e de gênero. Comportam-se nas situações mais variadas e por razões diversas como se pertencessem ao sexo oposto. O termo surgiu para dar conta das várias identidades trans surgidas e percebidas a partir do século XX e que, antes disso, eram categorizadas apenas como travestis ou invertidos. Compreende, portanto, travestis, transexuais, transformistas, drag-queens, crossdressers, etc. O fenômeno  da transgeneração é histórico e cultural: foi se transformando de acordo com novas práticas identitárias e novas descobertas científicas e se materializa diferentemente de acordo com o contexto cultural em que está inserido. Divido a categoria transgêneros em duas subcategorias:  as identitárias, aquelas em que a identidade de gênero é sociopolítica (travestis e transexuais) e as performáticas, quando a identidade é acessada em momentos e situações específicas (transformistas, drag-queens e crossdessers).

Cisgêneros: São os indivíduos que conciliam as identidades sexual e de gênero. Homens e mulheres que, mesmo sendo homossexuais, expressam seu gênero conforme sua identidade sexual. A categoria cisgênero ganhar destaque neste início de milênio com novas práticas estético-corporais e de papéis sexuais, quando uma heteronomatividade se insere acirradamente no entendimento da homossexaulidade, como por exemplo, a busca de padrões masculinos de comportamento e de estética entre os homossexuais masculinos, carregada, inclusive, de uma abjeção aos homossexuais efeminados e aos transgêneros.


Intersex: mais conhecidos como hermafroditas. Termo que se originou na figura mitológica grega Hermafrodita, filh@ dos deuses Hermes e Afrodite e que herdou fisicamente os dois sexos de seus progenitores. São sujeitos sexualmente ambivalentes, ou com um sexo “indefinido”. Não há na realidade um hermafrodita completo, ou seja, com os dois sexos plenamente formados num só corpo. Um sempre se sobressai ao outro em alguma de suas variadas e complexas características e que ultrapassam a simples questão da genitália, incluindo aí caracteres hormonais, cromossômicos, biológicos e psicológicos. O que existe realmente chamam de pseudo-hermafroditismo. Questão deveras polêmica. Pois, os médicos acham necessário proceder cirurgicamente para “corrigir o problema”. Assim, geralmente, são os médicos, ou melhor, uma equipe médica interdisciplinar que definirá o sexo final do sujeito intersex. Já existe um movimento sociopolítico, da parte dos próprios sujeitos intersex, que visa o impedimento dessas intervenções cirúrgicas fazendo, assim, com que seja o indivíduo intersex, já em idade adulta, aquele quem decidirá se haverá ou não uma “correção”.

Transexuais: Muitas vezes são confundidas com travestis operadas, porém uma diferença  deverá ser considerada: muitas vezes o desejo da operação de troca de sexo, ou uma correção genital se coloca como necessidade. A confusão com as travestis se dá pelas caraceterísitcas básicas comuns a ambas, pois, como as travestis, as transexuais pertencem a um sexo biológico, mas comportam-se socialmente como se do outro sexo fossem tanto em suas vidas públicas quanto privadas. São mais conhecidas pela expressão “alma de mulher aprisionada num corpo de homem” (ou o contrário). Através desta expressão e com o que venho discutindo aqui, no que se refere às identidades genética e de gênero, já dá para se entender o real significado da expressão. Há um total desencontro entre as identidades fazendo com que a segunda negue a anterior. A identidade psicossocial não aceita a sua identidade sexual, resultando em que estes indivíduos recorram , muitas vezes, à intervenção cirúrgica para buscar corrigir essa diferença. Não há necessariamente uma relação direta da transexualidade com a homossexualidade. Heterossexuais também podem vir a tornarem-se transexuais. No caso de homem para mulher: é um homem que quer SER uma mulher. Ciências como a Medicina e a Psicologia ainda consideram a transexualidade um transtorno psicológico de identidade, patologizando a categoria.

Crossdressers: Muito confundido com a travesti e com o próprio transformista, sendo erroneamente identificado com todo aquele sujeito que se veste com roupas do sexo oposto. Na verdade é um movimento surgido na última década para designar o sujeito geralmente heterossexual (mas também há sujeitos homossexuais e bissexuais) que, por prazer, fantasia, fetiche ou identificação de gênero, veste-se com roupas do sexo oposto. A prática não é cotidiana, havendo inclusive encontros específicos de crossdressers. O termo surgiu para diferenciar-se de travesti, que são mais confundidos com homossexuais. Não há necessariamente uma conotação sexual, apenas sociocomportamental.

Travestis: O termo parece ter tido origem no século XV e foi ressignificado no início do século XX por um médico alemão. Se referia aqueles sujeitos que se comportavam como se fossem do outro sexo biológico, incluindo aí, desde fetichistas até aqueles que viviam assim constantemente. Outro termo empregado era inversão. A partir dos estudos deste médico o termo travesti se popularizou  e no Brasil  chegou nos anos 50 se generalizando e virando, inclusive, sinônimo de homossexual afeminado.  Toda e qulaquer pessoa que assim se comportava era considerado um travesti, não importando o contexto.  Para o significado dessa colocação, usa-se hoje em dia, o termo transgênero. Não há uma relação direta da travestilidade com a homossexualidade, nem mesmo uma direta identificação. Como no caso anterior, também há uma diferença entre a identidade sexual e a psicossocial. Mas não ao ponto de uma total negação entre ambas. Como os transexuais, comportam-se socialmente, pública e privadamente, como se fossem pertencentes a outro sexo. A partir dos anos 50 e 60,  pelo menos no caso de homens que se travestiam de mulher, com o advento de novas tecnologias, as travestis passaram a fazer uso de hormônios e aplicações de próteses de silicone, para aprimorarem as características femininas requeridas e necessárias. Assim, as travestis começaram a definir e especificar mais ainda sua indentidade, diferenciado-se dos transformistas  e outros sujeitos transgêneros. No entanto, o sujeito travesti não nega seu sexo biológico na grande maioria das vezes. A maioria dos casos ocorre entre indivíduos nascidos homens., porém, há mulheres travestis, só que são menos aparentes socialmente. Pode acontecer de um sujeito travesti querer operar-se, tornando-se, assim, um transexual, o que chamo de “trânsito entre identidades”, mas  parece ser uma minoria. Até mesmo porque, muitas das travestis, infelizmente, para terem seu sustento material ainda precisam recorrer à prostituição, sendo, portanto, necessária, muitas vezes, a manutenção da genitália masculina, o que pode ser percebido nos  anúncios de classificados: “uma mulher especial, com um brinquedinho a mais”. É neste ponto que reside a tênue e sensível diferença entre travestis e transexuais. A travesti somente não recorre à cirurgia porque “precisa” de seu sexo biológico ou porque realmente não sente-se uma mulher como o transexual. Polêmico!!! No caso de homem para mulher: é um homem que quer SENTIR-SE como uma mulher.

Transformistas: O termo parece ter surgido na década de 1920 por meio do teatro e comporta aqueles indivíduos que se vestem com roupas e acessórios do sexo oposto, porém, atualmente, o contexto é totalmente diverso daquele em que os outros sujeitos trangêneros estão inseridos. Não há intervenções cirúrgicas, no máximo e em reduzidos casos, algum uso de hormônios para suavizar as formas físicas masculinas do corpo ou preencher um pouco os seios (no caso de homens transformistas; mulheres transformistas são raras). A prática nunca é privada, ou seja, o transformista não age assim para estar dentro de casa, no seu dia-a-dia. Portanto, a prática é sempre pública,  geralmente  em espaços de homossociabilidade. A relação com a homossexualidade é mais direta. A prática transformista está diretamente relacionada com a arte do transformismo, ou seja, é utilizada para performances em shows de dublagens, espetáculos teatrais e concursos de beleza feminina. No caso da arte transformista, as técnicas utilizadas podem servir à busca pela semelhança com alguma mulher em especial, geralmente grandes cantoras. Os artistas transformistas  geralmente criam uma única personagem, algo como um alter-ego, porém, podem variar suas interpretações e os artifícios utilizados são variados, mas sempre extracorpóreos, nunca intra. Usam-se perucas, meias, técnicas de maquiagem e de enchimentos nas roupas para acentuar curvas e sinuosidades, como peitos postiços assim como a famosa “pireli” usada nas nádegas para “arredondar o traseiro”. A intenção do transformista é ficar o máximo possível parecido com uma mulher. Transformistas são aqueles homens que querem PARECER uma mulher. Não há nenhuma negação, por parte do transformista de seu sexo biológico. Ao contrário, brinca-se com isso. A arte está justamente aí. Todos saberem que atrás daquela mulher linda e interessante está um homem. A figura clássica do transformista foi eternizada por Julie Andrews no filme “Victor ou Victória” onde uma mulher faz-se passar por um homem que faz show vestido de mulher. O termo ainda é muito confundido com travesti e, atualmente, também com a drag, tanto dentro do universo homo como na sociedade em geral. Há a questão das regionalidades também. Em muitos lugares, estes dois termos são praticamente sinônimos, como na língua espanhola, por exemplo, onde as travestis são chamadas de transformistas. No português brasileiro é o contrário. Os transformistas são chamados de travestis de maneira geral pela sociedade e as travestis que fazem shows são chamadas de transformistas, mesmo entre os homossexuais. Este último fato se deve às significações que o show transformista recebeu. Pois, o show transformista, durante certo tempo, passou a ser todo aquele show que era feito por um homem biologicamente definido como tal, porém, vestido como uma mulher, independentemente se tinha peitos de silicone ou não. Mas com o surgimento das drag-queens, nos anos 80 e 90, os artistas genuinamente transformistas passaram a se auto-identificarem desta forma, numa tentativa de demarcação de sua identidade e afirmação de sua diferença em relação às drags e às travestis. Não é uma categoria fechada, ou seja, transformistas podem virar uma travesti ou mesmo uma drag. Mais uma vez o tal “trânsito” entre identidades.  Os transformistas mais famosos de Porto Alegre e ainda na ativa são: Lady Cibele, Dandara Rangel, Laurita Leão, Glória Cristal (do Cine Theatro Ypiranga), Charlene Voluntaire (também do Cine e às vezes definida como drag pelo modo como iniciou sua carreira), Iaçana Makeba, Victória Principal e Bruna Diniz (da Refugiu’s Mega Danceteria).

Drag-queens: Este é o único caso que se aplica somente aos homens que se vestem de mulher. Não há mulheres drag-queens, pelo menos no Brasil. Na confusão, tentaram classificar as drag-kings, as mulheres que se vestem de homem, mas, pelo menos aqui, não vingou.  A origem do termo é confusa: queen é a forma na língua inglesa para o nosso "bicha" e drag pode ser uma sigla para DRessed As a Gril, (vestida como uma garota), mas não há evidências concretas disso.  Outros ainda afirmam que a origem de drag vem de dragão e queen seria rainha mesmo. (drag-queen = rainha-dragão). Nos Estados Unidos parece que o termo drag-queen é utilizado para todo e qualquer homem que se vista de mulher, algo como a generalização do termo travesti no Brasil. Para o que nós usamos como drag-queen e transfomrista no Brasil, na língua inlgesa é impersonator. Enfim, a onda drag foi uma tendência surgida nos EUA e também na Inglaterra, nos anos 70, na esteira da contracultura e ainda na era Disco e que se popularizou na onda clubber dos anos 80 e 90, principalmente com o estouro mundial do filme australiano “As Aventuras de Priscilla – A Rainha do Deserto”. Como os transformistas, as drags também estão mais ligadas à homossexualidade (há relatos de homens heterossexuais que se profissionalizaram como drags) e à performance, porém, com características completamente diferentes. Antes da popularização do fenômeno em 1994, elas já existiam numa forma variada mas em número bem menor. A maquiagem era bem diferente, num estilo pantomímico, com uma máscara de maquiagem branca cobrindo o rosto, com os olhos e a boca pintados num colorido intenso, porém, o tom debochado e exagerado era o mesmo. Eram figuras clownescas do carnaval carioca que  se transformaram na caricata e emprestou características à drag queen moderna. Figuras clássicas, no Brasil, dessas drag-queens antigas e caricatas são Isabelita dos Patins, Lola Batalhão e Laura de Visón. Em Porto Alegre há Pérla Ostra, eterna madrinha da Parada Livre. A drag não quer parecer uma mulher, ela DEBOCHA do feminino, no sentido teatral do termo. É uma over-woman, uma super mulher, o supra-sumo da atitude camp.  A maquiagem é exagerada, o figurino colorido, extravagante. Diferentemente do transformista, uma drag não esconde seu sexo biológico. O corpo masculino, mesmo que depilado, permanece à mostra. Não há exatamente uma tentativa de feminilizar o corpo, no máximo o uso de peitos postiços. Os braços masculinos, por vezes até musculosos, podem ficar à mostra sem nenhum problema, quando os transformistas, muitas vezes precisam recorrer aos vestidos com manga e luvas para encobrirem os braços masculinos. A drag-queen é um personagem único. A arte drag é totalmente diversa da arte-transformista. O transformista é mais restrito ao palco, à dublagem principalmente. A drag-queen, muito mais performática, começou nas pistas, nas portas das casas noturnas, recepcionando e brincando com o público, depois é que subiu aos palcos. Não há a busca da semelhança com o artista performatizado. É outro tipo de arte, quando a performance é feita pela mesma persona sem variar as interpretações. É uma arte assemelhada com a arte clown, só que um clown alegre, extremamente alegre. Por isso as críticas hoje existentes em relação às drags, de que elas fazem sempre o mesmo show com performances repetitivas. As pessoas não entendem esse caráter performático e de um único personagem. A drag mais conhecida de Porto Alegre é Letícia Dumont.

Top-Drags: Uma variação da Drag-queen. Muito mais feminina. Uma espécie de fusão entre uma artista travesti e uma drag-queen. Mantêm as características performáticas da drag-queen. Mas o corpo mais feminino é evidenciado, a maquiagem deixa de ser exagerada e passa a ser um pouco mais "natural". A busca é por femme fatales. Muitas drags se autodenominam como Tops, como um upgrade em sua carreira, algo como über model entre as modelos. Os maiores exemplos de Top-Drags em Porto Alegre são Suzzy B (da boate Vitraux Club) e Gia.

Caricatas: transformistas especializados em performances cômicas. Deboche puro, brincando com a figura da mulher estampada num corpo masculino. Geralmente é evidenciada a feiura, o bagaceiro, o brega. Por vezes, dependendo da performance, o tamanho dos seios e das nádegas é exagerado. O maior exemplo de ator-caricato aqui em Porto Alegre é o ator João Carlos Castanha. Dandara Rangel e Laurita Leão também fazem performances cômicas e escrachadas. Na história das artes transgêneras no Brasil há uma forte relação da caricata com a origem da drag-queen brasileira.

Covers: artistas performáticos especializados em performances imitativas. O nome vem das bandas musicais que se especializam em tocar o repertório de uma outra banda já conhecida. E no Brasil foi este o termo que se convencionou usar para denominar este tipo de arte. Nos países de língua inglesa a palvra usada é impersonator (utilizada inclusive para transformistas). São performers que se especializam em imitar os outros em suas ações e comportamentos, além da aparência. Na sua relação com o transformismo apenas se retira a dimensão transgênera deste. O caráter artístico do transformismo permanece o mesmo. O maior exemplo de artista cover na noite  gay de Porto Alegre é o Nikki Goulart com suas performances de Michael Jackson e Nina Haggen.

Montadas: Montada é o termo usado para aquele que está vestido de mulher. Montaria é todo o aparato necessário para a transformação.

Andrógino: Termo que mistura as palavras gregas “andros” e “ginos” e que designam exatamente masculino e feminino, respectivamente. Todo aquele sujeito que tem a identidade de gênero ambivalente ou indefinida, diferentemente dos transex, quando a indefinição se dá na dimensão biológica. Androginia ultrapassa o masculino e o feminino, dando espaço para dúvidas numa definição. Pode ser a fusão entre o masculino e o feminino, fazendo com que estes conceitos desapareçam ou mesmo mantenham a permanência de características de ambos os gêneros.

           Heterossexuais: Sujeitos que praticam sexo com alguém do sexo oposto. O termo passou a existir quando homossexualismo virou homossexualidade. Quando o homossexualismo deixou de ser considerado uma anomalia pela Organização Mundial de Saúde em 1985 e pela Associação Internacional de Psicologia em 1999 (pasmem! Somente há 10 anos), surgiu o termo homossexualidade. Assim heterossexualidade veio na esteira para marcar a diferença. Antes não se pensava num sujeito heterossexual, tal o peso de normatividade que esta prática tinha. Era o correto, o normal, portanto nem precisava ser nominado. A diferença era dada apenas entre homens e mulheres. Com uma maior aceitação da homossexualidade, o mundo passou a ser dividido entre heterossexuais e homossexuais. Setores do movimento LGBTT reivindicam uma ampliação dessa ideia reconhecendo a existência não só de identidades múltiplas mas também de sexualidades variadas.


Bissexuais: Sujeitos que praticam sexo com sujeitos de ambos os sexos. Ainda é considerada uma prática marginal, tanto por heterossexuais quanto por homossexuais. Tidos como “suspeitos” ou “promíscuos” ou simplesmente alguém que não quer sair do armário. A questão mais importante a ser considerada, no entanto, é a forma binária e dicotômica como ainda encaramos a sexualidade humana e que só permite a existência de dois modelos: os heteros e os homos, não possibilitando a compreensão da extensa variabilidade de práticas sexuais que a sexualidade humana pode abarcar.

Ufa!!! Foi longo, mas o básico tai! Qualquer dúvida ou objeção ao aqui exposto é só entrar em contato comigo!

Postado por:#MSUL Priscila P. Perim 

SITE CONSULTADO:

http://memorabiliagay.blogspot.com/

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pobreza, Gênero e Raça/Etnia nos Contextos Urbano e Rural


Raça não é um conceito biológico. Witzig(1996) em artigo publicado em
periódico de saúde, assinala que apenas 0,012% das variações genéticas responsáveis por diferenças entre humanos podem ser atribuídas à raça. 
Ainda assim sua vitalidade como conceito sociológico e político é reiterada por sua presença nas diferentes esferas da vida social, cultural e política dos diferentes povos e nações. 
Utilizada como categoria de hierarquização social, a raça – e mais precisamente, o racismo, ideologia associada - tem sido discutida por países e organismos multilaterais vinculados a Organização das Nações Unidas. De fato, se por um lado o conceito carece de definições precisas, por outro afirma sua operacionalidade na produção de desigualdades que afetam diferentes grupos humanos em diferentes partes do mundo e não somente no Brasil.
Para Maria Inês Barbosa,a definição e utilização do conceito raça abriga um histórico de constituição da dominação dos homens brancos ocidentais sobre o resto do mundo. Recorrendo ao pensamento de Edward Said, a autora
demonstra o viés constitutivo da identidade ocidental enquanto atributo patriarcal e classista, que está na gênese dos processos de fundamentação das idéias de supremacia branca. Reconhecendo também sua operacionalidade no caso brasileiro atual. Ao vincular-se de forma intrínseca à hierarquização, à injustiça e à desigualdade, o conceito de raça implica necessariamente numa conexão com o conceito de racismo e com os processos de dominação e inferiorização resultantes. E expande para o terreno simbólico, das representações, sua persistência.
Um conjunto já expressivo de estatísticas e outras informações à disposição da sociedade tem sido suficiente para demonstrar a operacionalidade de raça e racismo no Brasil e na América Latina. Ao mesmo tempo em que apontam para a centralidade com que o conceito deve ser trabalhado nas diferentes frentes voltadas para a produção de eqüidade e justiça social. Um dos aspectos mais explicitados na coleta dos dados raciais é a capacidade do racismo de impedir ou diminuir o acesso de negras e negros, e em diferentes intensidades os demais grupos raciais e étnicos não-brancos, aos direitos humanos (vistos na perspectiva DHESCA). No entanto, muitas vezes este quadro de injustiça apresentado tem sido interpretado (por equívoco ou por vinculação ativa ao mito da democracia racial) como conseqüência da pobreza. 
Gênero tem sido, tanto no Brasil, como na maioria dos países do mundo, um dos mais importantes conceitos e ferramentas para a explicitação da vigência de desigualdades no interior das sociedades e nações. De fato, é através da utilização do gênero como marcador das relações sociais e balizador do combate às desigualdades que medidas de reformulação das estruturas sociais e estatais têm sido propostas e empreendidas, especialmente a partir da década de 70 do século passado.
Esta ascensão das lutas pela igualdade de gênero aponta para o vigor da mobilização social desenvolvida ao longo do século XX no ocidente (mas que tem início no século anterior), de ampliação da participação das mulheres na vida pública, especialmente as mulheres brancas na Europa e Estadas Unidos. São exemplos desta mobilização a luta pelo direito ao voto, pelo direito ao controle da sexualidade e da fertilidade e pelo direito à participação no mercado de trabalho formal. 
A hegemonização do conceito de gênero e as lutas por eqüidade a ele associadas apontam também para sua incorporação em diferentes estruturas estatais e multilaterais nas diferentes partes do mundo, oferecendo um ambiente supranacional (internacional) de estímulo e suporte à tomada de decisões por parte de gestores públicos nos diferentes níveis.
Por outro lado, este vigor assinala também a vinculação das lutas pela igualdade de gênero a estruturas de classe e raça também hegemônicas. As formas como as perspectivas de gênero e eqüidade entre homens e mulheres vêm sendo elaboradas e/ou disseminados não têm sido suficiente para confrontar, de modo incisivo ou aprofundado, os demais fatores envolvidos na produção de iniqüidades que atingem mulheres nas diferentes partes do mundo. O que permite alterações na estrutura social em relação à participação das mulheres, sem que confrontem privilégios vividos pelos ricos e pelos brancos, conforme vêm apontando as organizações de mulheres negras no Brasil ao longo dos anos.
Ou seja, permitindo a transformação das condições de vida e de acesso à igualdade de direitos a uma parcela ainda minoritária de mulheres,
principalmente aquelas pertencentes aos grupos raciais, étnicos ou de classe
social dominantes. O que significa dizer que sua contrapartida é o reforço ao
racismo e demais fatores de exclusão social que transformam a vida das demais mulheres em violência e deprivação.
Vem daí muitas vezes um certo grau de atrito, de diferenciação e disputa, entre as perspectivas de gênero, em relação às ações vinculadas a raça e classe, para além dos conflitos que o anti-sexismo provoca. Ou melhor, é da situação vista como conservadora por movimentos sociais envolvidos com as causas antiracistas e a defesa dos direitos dos segmentos mais pobres da população, que conflitos tanto internos quanto externamente ao movimento feminista – e também no interior dos demais movimentos sociais fundados em raça e classe, quando confrontado com pautas de interesses das mulheres - foram deflagrados.
Pobreza não é um tema abordado direta ou especificamente pela Articulação de Organizações de Mulheres Negras. Ao contrário, é visão corrente no interior da AMNB que são as causas estruturais da desigualdade e espoliação, e não seus efeitos – entre eles a pobreza - que requerem atenção imediata e o expressivo investimento de recursos para o seu enfrentamento e superação.
Entre os diferentes fatores produtores de desigualdade, o racismo é apontado como o de maior participação no caso brasileiro e latinoamericano. Uma vez que, ao impor barreiras a negras e negros para o acesso a bens sociais e políticas públicas, restringe sua possibilidade de acumulação de riquezas através do trabalho. Riquezas e bens sociais que são deslocadas diretamente aos privilégios da população branca. Diferentes dados produzidos por diferentes centros de pesquisa demonstram a maior concentração de pobreza e indigência entre a população negra, mesmo quando se desagrega os dados por sexo. Ou seja, o principal diferencial de renda no Brasil coloca-se entre brancos e negros, independente do sexo. Assim, mulheres e homens negros têm renda mais baixa quando comparados a mulheres e homens brancos, conforme se verifica nos quadros abaixo, preparados a partir do trabalho empreendido por IPEA/UNIFEM em 2005: Proporção de pobres por raça.

Postado por: Poliana Verdam da Silva

domingo, 9 de outubro de 2011

MAMOGRAFIA É UM GRANDE ALIADO NA LUTA CONTRA O CÂNCER DE MAMA

O movimento Outubro Rosa, voltado para a luta contra o câncer de mama, lançou, no dia 4 de outubro, uma campanha que pretende conscientizar a população para a importância de as mulheres fazerem a mamografia com regularidade. Segundo especialistas, a mamografia pode diagnosticar o surgimento de um tumor na mama, além de ser uma grande aliada para aumentar as chances de cura e, consequentemente, reduzir as mortes causadas por este tipo de câncer.
Segundo especialistas, no Brasil, o câncer de mama é responsável por grande parte das mortes de mulheres de 15 a 49 anos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, somente neste ano devem ser registrados cerca de 50 mil novos casos da doença no Brasil. Ainda segundo o Inca, por ano, mais de 10 mil brasileiras morrem por causa do câncer da mama.
Dados do Ministério da Saúde revelam que existem no Brasil quase 1,3 mil mamógrafos em funcionamento, disponíveis para exames pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os dados mostram também que este número é quase duas vezes maior do que o necessário para atender toda a população brasileira.
De acordo com o radioterapeuta Henrique Balloni, a maior parte dos tumores de mama quando diagnosticados no início apresentam taxas de cura elevadas, acima de 90%. Ainda segundo Balloni, exames como a mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética das mamas podem indicar maior probabilidade do nódulo ser maligno ou benigno.
O Outubro Rosa
O movimento Outubro Rosa foi lançado no final dos anos 90 e é comemorado em todo o mundo. O nome remete à cor do laço rosa que simboliza, mundialmente, a luta contra o câncer de mama e estimula a participação da população, empresas e entidades. Este movimento começou nos Estados Unidos, onde vários Estados tinham ações isoladas referentes à doença. Com a aprovação do Congresso norte-americano, o mês de Outubro virou o mês de prevenção do câncer de mama.


Postado por: MSUL SORAIA BERTONCELI

MULHERES



As reivindicações dos movimentos das últimas décadas têm questionado muitas destas certezas, tanto em termos políticos quanto de construção do conhecimento, pois existem mulheres que não sabem seus direitos a saúde, acesso a assiduidade das mulheres aos diferentes serviços de saúde pois parte dessa população feminina nunca passou por um exame ginecológico como: exame de mama, Citologia Oncótica ou Preventivo e seus direitos sexuais e reprodutivos sendo que o SUS pode não ter alcançado o patamar do objetivo a saúde da mulher devido a demanda insuficiente más muitas não usam o sistema SUS porque são leigas ou coagidas devido a ignorância e preconceito.
 O sexo feminino esta ligado diretamente à reprodução onde nós mulheres somos vistas pela Sociedade Civil como seres de procriação e devemos assumir literalmente a responsabilidade de gerar e cuidar do filho como uma tarefa única somente feminina onde os homens agem como meros espectadores, más filhos são de homens e mulheres onde as responsabilidades devem ser distribuídas igualmente. 
 A liberdade de escolha deve ser prioridade para decidir se querem ou não ter filhos onde as mulheres devem ser preparadas para assumir seus direitos de liberdade de escolha e preservando também sua saúde sexual e sem nenhuma culpa. Do século XX até os dias atuais vem ocorrendo avanços no Brasil no que desrespeito a conquistas feministas, onde trabalhar para eliminar as discriminações contra o sexo gênero e raça em todos os campos de atividade, especialmente na educação passou a proporcionar maior status e autonomia, isto é, maior empoderamento das mulheres é o que vem se buscando. As mulheres atualmente estão conseguindo conquistar seu espaço em vários fatores um deles e a busca por conhecimento em geral a educação isso esta sendo um grande passo para o gênero feminino, pois através da educação é que se abrem as portas para o mercado de trabalho onde as mesmas podem contribuir com a renda familiar e se sentindo cidadãs com direitos de igualdade. 
Nós mulheres temos necessidade de espaço e queremos transformações estruturais na sociedade moderna, que nos permitam viver livres de toda forma de subjugação pois as conquistas não vêm por decreto muito menos por favor pois não precisamos convencer os homens a deixarem de oprimir as mulheres, porque compreendemos a sociedade como algo um pouco mais complexo que isso e conhecemos nossa potencialidade de protagonistas da nossa própria história.

REFERENCIAL:

ÁVILA, M.B. Notas sobre o Trabalho Doméstico. In: LIMA, M.E.B. et al. (orgs.). Transformando a Relação do Trabalho e a Cidadania. São Paulo: CUT Brasil, 2007.

 BARROS, L.F.W. A Família DINC no Brasil 1996-2006: Uma Análise Sociodemográfica e de Gênero. 2009. 131f. Dissertação (Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais), Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE / Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE, Rio de Janeiro.

 BARSTED, L.L. A violência contra as mulheres no Brasil e a convenção de Belém do Pará, dez anos depois. In: PERES, A. & ANDRADE, P. (Eds.). O Progresso das Mulheres no Brasil . Brasília: UNIFEM / Fundação Ford / Cepia, 2006. cap. 8: 247-289.

ÁVILA, M. B. Feminismo no Brasil. Projeto de pesquisa.

_________ & CORREA, S. Movimento de Mulheres: questões para pensar-se seus rumos. Chile: Ministerio de Justicia, 2000. Disponível em: < http://www.minjusticia.cl/pmg/documentos/movimiento_mulheres.pdf >. Acesso e m 26/03/2010.

AZEVEDO, V.A.T. Ìyàmi: símbolo ancestral feminino no Brasil. 2006. 153f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo.

BAIRROS, L. Nossos feminismos revisitados. Revista Estudos Feministas, v. 3, n. 2: 458-463, Rio de Janeiro, IFC/UFRJ, 1995.

  Postado por:#MSULSoraia Bertonceli e debatido pelo grupo 02 Saúde MSUL:

# MSULPriscila Pavão, #MSUL Neise Araujo, #MSUL Cristina de Melo, #MSUL Andrea de Melo, #MSULRaquel Rabelo, #MSUL Maria Vanderleia Saluci, #MSUL Érika silvestre, #MSUL Jordana Ferraz.